segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Transição do guarda-redes do futebol 7 para o futebol 11

A Transição do Futebol de 7 para Futebol de 11 


A questão que trago para este artigo é sujeita a grande reflexão e discussão. É vista como a mais difícil transição de um Guarda-Redes, para lá da sempre complicada passagem para o futebol sénior. Contudo, a grande dificuldade que um Guarda-Redes sub-12 se depara tem maior incidência nas variáveis espaciais. Existem alterações de relevo ao nível:
1)      Do tamanho da baliza:
Uma das principais preocupações prende-se na transição da baliza de 6.0 x 2.0 metros para a baliza de 7.32 x 2.44 metros. Alterações em altura e em comprimento definidoras de muito do sucesso (ou falta dele) que um guarda-redes poderá ter num intervalo temporal demasiado reduzido. Surgem novas exigências ao nível dos deslocamentos e à defesa de bolas altas. A todos estes factores, junta-se a idade dos Guarda-Redes envolvidos (sub-12 para sub-13), que se assumem como idades sensíveis ao nível da maturação biológica, com possíveis índices de precocidade.
2)      Do tamanho do campo de jogo:
Para lá da variável ‘baliza’, que sofre mudanças significativas, outro dos factores problemáticos de adaptação é definido pelas alterações da profundidade e largura do campo. As diferenças são variáveis, mas podemos observar, dando um exemplo moderado, incrementos de 30 metros em comprimento e de 15 metros em largura. Estas discrepâncias são muito complexas de lidar numa fase inicial de aprendizagem do futebol de 11. Surgirão dificuldades para realizar coberturas ofensivas ou acções como último defesa para os Guarda-Redes que realizaram a sua formação no futebol de 7 muito perto da linha de baliza. O aumento da distância entre o Guarda-Redes e a linha defensiva é uma das principais alterações impostas pelas condicionantes espaciais.
3)      Do número de jogadores envolvidos no jogo:
Se bem que as variáveis espaciais podem ser definidoras do aumento de complexidade do jogo, o aumento do número de elementos ainda agudiza a situação. Maior número de opções, de focos de distracção e de comunicação. Mais linhas de passe concretizáveis, mais linhas de passe a fechar por parte do adversário, mais elementos passíveis de finalização, mais elementos em ruptura ou cobertura. A relação do Guarda-Redes com o jogo deve ter, nesta altura, bases sustentáveis de evolução, sob pena de ter de ensinar os princípios específicos numa tela bem maior e bem mais complexa.
A missão do Guarda-Redes é complexificada de tal forma que, tendo como exemplo a minha experiência profissional e de convivência com outros profissionais, certos Guarda-Redes acabam por desistir da posição num prazo máximo de dois anos. É fulcral evitar situações como esta acontecerem, devido à desmotivação que as próprias leis do jogo podem criar a um Guarda-Redes, seja ele de estatura alta, média ou baixa.
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Baliza com 9,75 por 2,74 metros
Diversas associações, mesmo a English FA, já criaram campanhas construtivas de melhoramento das condições de jogo, revelando a injustiça da brusca transição para as dimensões seniores aos 12 anos de idade. Estas campanhas envolveram a criação de uma baliza de futebol de 11 para que um atleta senior possa saber como um sub-12 se sente, atingindo as brutais dimensões de 9,75 por 2,74 metros.
Mas aqui perguntamos: que factores se assumirão como fundamentais para garantir algum sucesso na defesa da baliza ou bases sustentáveis de evolução para um Guarda-Redes que efectue esta transição? Não há factores milagrosos. O correcto ensinamento do futebol de 7 e as suas bases técnico-tácticas são, de longe, o factor principal para facilitar a nova tarefa de aprendizagem. Senão vejamos:
1)      Princípio do corpo atrás da bola:
É fundamental o Guarda-Redes dominar este princípio. Se o Guarda-Redes acumulava hábitos de efectuar quedas laterais em todo o tipo de bolas no futebol de 7, terá grandes dificuldades com o aumento do tamanho da baliza. As recepções/desvios mais complexos envolverão um tipo de deslocamento lateral (sem ou com cruzamento de apoios) antes do momento de impulsão para a bola.
2)      Posicionamento em momento ofensivo:
Demasiado recorrente, e já referido num artigo anterior sobre a formação de Guarda-Redes do futebol de 7, os Guarda-Redes se manterem junto à linha de baliza quando a bola está longe. Nesta perspectiva, ainda mais longe a bola estará com as alterações das condicionantes espaciais. Quanto mais cedo o Guarda-Redes ganhar a rotina de se aproximar da sua equipa no momento ofensivo (da bola, e do último defesa), mais facilmente cumprirá no futebol de 11. A distância a vencer numa cobertura defensiva ou numa acção como último defesa será bem maior agora.
3)      Posicionamento em momento defensivo:
A aprendizagem do posicionamento na baliza durante o momento de organização defensiva é fundamental. Vemos, no futebol de 7, vários Guarda-Redes, assim que a bola chega ao corredor lateral, encostarem-se ao poste como medida de segurança (proteger o lado da baliza mais próximo da bola). Tal factor desprotege obviamente o lado mais aberto de uma forma muitas vezes fatal. No futebol de 11, quem tiver adquirido esses hábitos, terá mais 1,32 metros desprotegidos com as novas dimensões.
4)      Bolas altas:
Este é um dos maiores problemas nesta transição. Guarda-Redes com estatura média/baixa a ter de defender balizas com 2,44 metros. Em certos momentos torna-se impossível, mas há que transmitir as ferramentas que os ajudarão a ter mais sucesso. Há que estar posicionado fora da linha, sob pena de haver constantemente ângulos de remate impossíveis de fechar mesmo com vários deslocamentos laterais. Relativamente às bolas altas, o Guarda-Redes deve dominar odeslocamento com cruzamento de apoios, de modo a recuperar a sua posição na baliza sem deixar de ver o jogo e a bola.
Numa altura em que vários propõem que, entre o futebol de 7 e o de 11, deve ser introduzido o futebol de 9 neste escalão, algo é certo: há muito mais dificuldades que facilidades nesta transição. Uma medida intermédia pode ser importante, mas o tamanho das balizas nunca alterará. Apenas se com um futebol de 9 se mantiver a baliza de 6.0 x 2.0 metros, e introduzir a baliza de 7.32 x 2.44 metros no escalão se sub-14, poderá haver algum critério. Esperemos para ver. E da minha parte, espero ter deixado o meu contributo.
Este artigo foi elaborado pelo treinador de guarda-redes da formação do Estoril Praia, Portugal, João Garcia . Pode ser consultado em http://thinkingfootball.net/2014/01/20/goalkeeper-transition-from-u12-to-u13/

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